O Ministério da Saúde adverte: a resenha a seguir foi escrita por alguém que gastou dois reais com o jogo em pauta, por meios ilegais. Recomenda-se que o leitor use o bom senso para distinguir “vale a mídia” de “vale 150 reais nas lojas especializadas”. O padrão para as avaliações muda quando o bolso pesa, então pede-se que o leitor não venha a reclamar com injúrias do tipo “porra caralio busseta, pagei 200 conto, brigei com mew pai e minha mão p causa diso e agora discubro q ece jogo e uma bosta!!!!!”. Agradecemos a compreensão.
Def Jam: Fight for NY
Plataformas: GC, PS2, Xbox e PSP (port)
Data de lançamento: 20/09/2004
Produtora: EA Games
Desenvolvedora: EA Canada
Você sempre quis ver aquele seu rapper favorito, que canta sobre ser gangstah e sobre sair queimando nego por aí, deixar de conversa fiada e partir pro pau? Eu nunca. Mas nem por isso deixei de me divertir com Def Jam: Fight for NY, continuação de Def Jam: Vendetta, lançado em 2003 para GC, PS2 e XBox. Acho.
Ao contrário do predecessor, Fight for NY não envolve maloqueiros bombados brigando sem motivo algum sobre um ringue. Dessa vez, os maloqueiros bombados brigam sem motivo algum nas ruas, nos bares e clubes, o que torna a coisa um tanto mais interessante. Enquanto um jogo de luta normal contenta-se com bolas de fogo e espadas do tamanho de um ônibus, em DJ temos uma briga convincente rolando nas arenas improvisadas, com direito a platéia sedenta por sangue que não perde a chance de gentilmente ajudar o mais forte.
Gráficos:
Apesar de ser adepto daquele papo de que gráficos não são tão importantes, que o que realmente interessa é a diversão proporcionada e essas coisas, tenho que admitir: ninguém quer ver amontoados de cubos se pegando na tela. E esse é um dos pontos fortes de Fight for NY, a meu ver. Os gráficos são dignos de um jogo do fim da geração, apesar de FfNY ser de 2004. Os negões são realmente parecidos com suas contrapartes reais, mas por outro lado a Carmen Electra também é, o que salva o dia.
Temos cenários bastante variados, com muitos detalhes e platéia de verdade. Tá, não são aqueles milhares de pessoas de um FIFA ou WE, mas e desde quando milhares de pessoas se juntam pra ver underground gangstahs brigando? Os 20 ou 30 alegres que assistem às partidas cumprem bem seu papel: modelos tridimensionais completamente interativos (explico mais adiante), ao contrários das tradicionais cartolinas que vemos quando o público é maior.
As cutscenes são boas também, apesar de agora eu não lembrar se são CGs ou cenas com a mecânica do jogo. Nota mental: trazer o GC pra Santo Ângelo na próxima resenha. Olhando a foto agora, acho que são CGs mesmo. Aliás, a cena da Carmen Electra pelada é de um realismo surpreendente, como eu nunca tinha visto antes em uma cutscene.
Hoho taradão, enganei você!
Quanto aos detalhes de vestuário, as roupas ficam bem no corpo e os bling-blings brilham de uma forma bem bagaceira, mas legal no contexto. Chega a doer o olho se você tem um brinco de diamantes comprado por muito dinheiro na Jacob’s. Porque afinal você é um pobre coitado da favela, ignorado pela sociedade consumista, e precisa tristemente gastar seus milhões de dólares em jóias para se sentir integrado ao mundo. Só uma reclamação nesse aspecto: os colares são objetos sólidos, fazendo com que um personagem desmaiado no chão fique com uma estranha corrente flutuando alguns centímetros acima de sua barriga.
Gostaria de lembrar que eu joguei Fight for NY em um Gamecube, então provavelmente os gráficos são mais serrilhados no PS2 e melhores no Xbox.
Som:
Como um bom jogo de cantores famosos quebrando o pau, a trilha sonora é composta de músicas de todos, ou quase, os rappers que você pode escolher no jogo. E eles são muitos, acredite. Acho que 72. Conforme você detona os caras no modo Story, habilita eles e suas músicas. Ou seja, nada além do bom e velho Rhythm and Poetry, que nesse caso eu preferiria chamar de “some rhythm and no fucking poetry” ou até “nor rhythm neither poetry”.
O videogame está a 400km de distância de mim nesse momento, senão eu dava uma jogadinha. Mas eu só consigo lembrar das músicas tocando nos menus. Acho que tem rap durante as lutas também, mas não faz muita diferença em meio às porradas.
Já os sons em geral são ótimos. Os socos, chutes, gritos da platéia quando você pwna geral, garrafas quebrando, canos de 2 metros de comprimento indo ao encontro de cabeças raspadas, tudo dá uma sensação de imersão muito boa. Dá até pra resmungar um “hng…” quando você dá um vassouraço bem dado no oponente.
Jogabilidade:
A melhor parte da coisa. Até onde eu lembre, não parece com nenhum jogo convencional. Tá mais pra WWF Wrestlemania, de SNES, que foi o último game de luta livre que eu lembro de ter jogado. Seu personagem pode andar livremente pela tela, com movimentação 3D em uma perspectiva estilo Soul Calibur, mas sem a trava de alvo. Você pode dar umas passeadas pelo cenário e, enquanto o oponente estiver mostrando seus bling-blings pra platéia, correr com a perna erguida em direção à barriga do coitado. Fica difícil explicar, mas o sistema de movimentação é bom.
Outro grande diferencial de FfNY são os estilos de briga. Há Streetfighting, Kickboxing, Wrestling, Martial Arts e Submission. Isso porque, novamente ao contrário de um jogo normal, é impossível detonar um oponente apenas acabando com a vida dele. Você tem que deixá-lo no vermelho e então dar o KO, que pode resultar de uma garrafada bem dada, uma comprimida contra a parede, um trabalho em equipe com um membro mais safado da platéia ou então usando o ataque especial de cada estilo de luta. A parte boa é que não é sempre o mesmo esquema de tirar a vida do cara ao máximo e então dar KO. Às vezes com um bom combo no início (soco, soco, chute, soco, levanta, agarra, joga na parede, esfrega na parede, levanta, ativa o especial, agarra, dá o especial, levanta, socão) você já deixa a saúde instantânea do adversário no vermelho, apesar da permanente estar quase cheia. Se você deixar o cara quieto a vida instantânea vai recuperando, então é só ser rápido e detoná-lo antes que ele volte para o verde.
Acho que citei todas as maravilhas da jogabilidade: armas do cenário, cenário como arma, combos, especiais, estilos de luta, relações de afeto com a platéia e liberdade de movimento bem implementada.
Multiplayer:
O multiplayer é um jogo à parte. Começamos com “One on One”, “Free for All” e a peleia em duplas. Conforme o Story é jogado, vão sendo habilitados novos modos, como o “OMFG estou na borda da estação e o Fat Joe tá vindo pra cima de mim enquanto escuto o apito do metrô vindo a toda velocidaaaaghn!” e o “gaiolão”.
Na briga um-contra-um e suas vertentes, o jogo continua o mesmo, no máximo com uma ameaça a mais, como o metrô ou um círculo de fogo ao redor da arena. Já no “Free for All” o bicho pega, com mais 2 ou 3 amigos tentando se matar ou TE matar. Sim, tem até ataque conjunto. Se dois caras resolvem que vão dar um agarrão em um terceiro ao mesmo tempo, aparece todo um golpezinho especial em dupla, potencialmente doloroso.
Mas, ao mesmo tempo que é o modo mais engraçado e desesperador, o Free for All mostra o pior defeito da movimentação livre dos negões: enquanto no One on One você é solto mas trava a mira no inimigo quando ele está próximo, aqui a mira fica travada em um cara até que você mande ou até que outro te ataque. O que é uma bosta. Três carinhas tão se quebrando lá no canto e você tá só mostrando os bling-blings pra encher a barra de especial. De repente um resolve partir sua cara ao meio. Experimenta dar um soco pra ver o que acontece. Sim, você tem 1/3 de chances de acertar o cara. Nada de travar a mira no mais próximo ou algo inteligente assim. Você tem que apertar Z (no GC), esperar seu carinha apontar o dedo pro outro e então atacar, só que até lá você já está no chão.
Mas sem problemas, depois de acostumar fica melhor. Fight for NY fica muito mais divertido quando se tem mais de um controle e mais que zero amigos.
Replay:
72 personagens, 5 dos quais mulheres. Umas 30 arenas. Muitas músicas e muitos “Blazin’ Moves” pra habilitar. Achievements para feitos extraordinários no modo Story, o que dá vontade de jogar de novo só pra abrir tudo. Quer mais? Todos os personagens e arenas podem ser habilitados sem jogar a história, sendo que você ganha alguns pontos a cada partida multiplayer jogada e pode comprar os lutadores com pontos.
Sem contar que o seu boneco do Story pode ser magnificamente usado no multi. Então você vê aquele cara feio e cheio de correntes, que você criou com tanto prazer durante um retrato-falado no começo do jogo e depois encheu de chapéus e roupas largas, brigar contra Busta Rhymes, Snoop Dogg, Fat Joe, Xzibit e o caralho, e você pensa: “nossa, isso saiu de mim”. Muito legal mesmo.
No modo carreira esse mesmo indivíduo briga em torneios, namora a Carmen Electra e participa de guerras de gangues, tudo muito variado e criativo. Nada de “agora vamos brigar no bar”, tirando os campeonatos. Tudo se adequa a uma historinha e tal, e conforme você ganha as brigas recebe pontos para melhorar os atributos do personagem, o que aumenta potencialmente o fator replay. A única reclamação quanto a isso é a necessidade desesperada de entupir seu cara de badulaques, senão ele fica com o Carisma baixo e conseqüentemente demora mais a encher a barra de especial. Mas acho que isso deveria estar na Jogabilidade, não no Replay. Sei lá. Sei que, no fim das contas,
A avaliação final é: Jogão! Não é aquela obra de arte, com final que te faz chorar e história que vai ser lembrada 10 anos depois como marcante e revolucionária, mas é bom. Muito bom, principalmente com alguns amigos e algum tempo livre pra jogar o viciante modo Story. Um Must Play para fãs de jogos de luta. Gráficos ótimos, jogabilidade ótima e um replay do caralho pra quem é fã daquele monte de gangstahs malvados atolados em jóias que falam sobre paz e justiça para os pobres em suas músicas cheias de ritmo e poesia.
Caso você não queira nem saber dos rappers, ainda tem a Carmen Electra.
Update.: Fotos adicionadas. Agora só digam aí se ficou bom assim ou se na próxima coloco thumbnails.