Nova geração, um post sobre pais

Uma vez, quando eu comprava todas as revistas e livros de RPG que encontrava pela frente sem nunca ter conseguido gente suficiente pra jogar uma partida, li em uma Dragão Brasil algo sobre pureza dos vampiros do jogo Vampiro: A Máscara. Posso estar bem errado (fãs de Vampiro, corrijam-me), mas creio ter lido algo sobre Caim ter gerado três vampiros, que seriam a segunda geração, que por sua vez geraram mais uma galera, a terceira geração, e por aí vai. Se bem me lembro, os vampiros de 13ª geração seriam o mais longe que se pode estar do sangue de Caim, a ralé vampiresca, que nasceu tarde demais para ser merecedora de algum respeito dentro dos clãs do jogo.

Mas, por um daqueles desvios da vida que me impediu de esbarrar em um conoisseur de RPG no colégio, ficar amigo dele e virar jogador assíduo, coisa que poderia ter acontecido caso meu lápis não tivesse caído no chão e eu tivesse saído da sala de aula sete segundos mais cedo no intervalo após o período de Química de uma terça-feira chuvosa, esse não é um blog sobre RPG, e sim sobre videogames. Mas videogames também têm gerações. E não, não é um post aula de história.

Troque o Wii da foto acima por um Top System e esse garoto da esquerda poderia ser eu, 16 anos atrás, ganhando meu primeiro videogame que, como eu só viria a saber depois, foi um dos muitos genéricos de NES a pipocarem no mercado na década de 90. Claro que, se esse fosse o caso, eu não estaria gritando de alegria como o menino da esquerda, e sim me perguntando quem diabos é o menino loiro, o que ele está fazendo na minha casa e, pior, por que ele está comemorando a chegada do MEU videogame. Tem outra: SE eu tivesse amigos nessa época, meu pai provavelmente não teria comprado um Top System pra me fazer companhia, teria comprado uma bola.

Mas não é o caso. Apesar da semelhança absurda com o Lipedalzinho de 1994, o guri da esquerda não sou eu, e sim alguém que nasceu uns bons anos depois e, salvo melhor juízo, está ganhando um Wii. Se jogadores fossem vampiros, eu – você também, provavelmente – seria um gamer de terceira geração (Nintendinho, Master System), e esses meninos seriam gamers de sétima geração. Crianças cuja primeira experiência com videogames foi balangar um controle remoto para rebater em Wii Tennis e bailar em frente à TV pulverizando caras maus em Ben 10: Protector of Earth. Crianças que, se deixadas sem orientação, nunca virão a conhecer Super Mario World, e que correm o risco de jogar um jogo atual do Sonic e achá-lo incrível.

O parágrafo acima foi excessivamente dramático para fins ilustrativos, e para introduzir a verdadeira discussão do post: daqui a alguns anos, seremos pais de gamers de nona ou décima geração. Seremos aqueles tiozões nostálgicos que resmungam “ah, no meu tempo não tinha essa de pulo duplo”. Quando essa hora chegar, devemos ter o incômodo de apresentar os clássicos às crias, ou deixamos pra lá e tentamos conter as lágrimas quando ele implorar por Super Mario Multiverse de natal?

De novo recorrendo à comparação com filmes, eu tenho um pai que é adepto fervoroso da primeira opção. Junto com o velho, passei a adolescência vendo Hitchcock, muito 007 pré-Pierce Brosnan, todos os clássicos de Kubrick e os Pantera Cor-de-Rosa com Peter Sellers, para citar alguns, mas em compensação passei reto por Independence Day, O Sexto Sentido e até mesmo Exterminador do Futuro. Mais recentemente tenho tirado o atraso de alguns filmes, mas é bastante óbvio que é impossível assistir tudo de bom que há para se ver. Já com relação a videogames, papai é um gamer de segunda geração, que teve um Atari 2600, mas não chegou a me mostrar nostalgicamente os jogos da época – por uma questão de falta de hardware, leia-se “que fim deu aquele Atari que eu tinha, mãe?”.

Acho que minha dúvida surgiu pela primeira vez há um tempo, ao perceber que meu primo três anos mais novo zerou Super Mario 64 antes de saber da existência de Super Mario World. Três anos foram suficientes para que o rapaz perdesse uma geração inteira. Imagine alguém que ainda vai nascer daqui a oito, dez anos! Dou o videogame da geração pro meu filho – ou filha, claro – junto com uma cópia de Cartoon Network Generic Cartoon Game, acompanhado de um rancoroso “divirta-se”, ou tiro a poeira do Super Nintendo e faço a boa e velha chantagem de pai dizendo que ele vai ter que terminar Super Bomberman 3 com um amiguinho antes de ganhar o jogo da moda? Se eu não terminei Symphony of the Night, Ocarina of Time, nenhum Final Fantasy e mal joguei Metal Gear Solid, como vou ter moral pra convencer alguém a jogar os clássicos? Será que vou conseguir mostrar o melhor de dois mundos (não, dez!) pro sujeito, ou vai ser um gamer alienado de 10ª geração que vai olhar pro Jogo do Ano de 2010 e dizer “porra, mais jogo velho, pai”? Tem mais questões a serem levantadas mas o post tá ficando gigante, então fica pra discussão nos comentários.

Dúvidas, dúvidas… Pior vai ser explicar como era o mundo antes da internet.

16 Responses to Nova geração, um post sobre pais

  1. Lipedal disse:

    Ah, se algum leitor já tem filhos em idade de jogar videogame, por favor conte sua experiência aqui nos comentários.

  2. Gui Stadler disse:

    Mais um post da série: Levo videogames muito a sério e ponho diversão em segundo plano!

    Por favor, né. Os clássicos só são clássicos por serem divertidos até hoje. Tu só vai fazer um filho teu jogar algo velho se ele se divertir com isso, ué.

    E é exatamente por isso que tu ainda não jogou OoT ou Metal Gear Solid, porque há outros jogos ou filmes ou livros com os quais tu prefere gastar seu tempo.

    Isso, né, na minha opinião de quem não vê videogame como muito mais que entretenimento 😦

  3. Lipedal disse:

    É um post da série: “pelo menos tô escrevendo”.

  4. Gui Stadler disse:

    Sim, né. Pra quê argumentar? Pra quê conversar sobre o post? Mais fácil encher as paciência do Gui!

  5. Lipedal disse:

    Kjhaskdj relaxa Gui. Tava esperando mais gente comentar pra conversar de verdade.

    Então, claro que fiz uma pequena tempestade em copo d’água com relação aos gamers do futuro, mas se a gente passa horas discutindo o futuro de Zelda, que vai vir à tona de qualquer jeito daqui a uns meses, por que não um post assim? Como meu pai fez comigo com relação a filmes, tenho planos de fazer com games também, quando for minha vez.

    Por exemplo: Clube da Luta e Matrix, para citar dois relativamente atuais, são filmes que eu quero mostrar pro garoto quando for papai. Tem coisa tão boa nesse campo, espalhada pelas épocas, que me deprime saber que tem muita gente que não viu a primeira trilogia Star Wars só porque é de outros tempos. Me deprime mais ainda recomendar um filme bom pra amigos e ser recebido com “porra, mas é filme velho, Felipe?”

    Você não deixa de ler Senhor dos Anéis ou 1984 porque foram escritos antes de você nascer, então por que fazer diferente com filmes ou jogos? Só porque a tecnologia envelhece você nasce sem a capacidade de ver filme em preto-e-branco ou com bonecões no lugar da CG? Meu ponto é mais ou menos por aí.

    Claro que se o guri gostar de Sonic Unleashed, ótimo pra ele. Como tu disse, tá se divertindo. Mas é meio mito da caverna: tem gente aí que achou 2012 o melhor filme do mundo simplesmente porque não conhece muito além disso. Aí recomenda um clássico de 20 anos atrás pro sujeito e ele vai dar risada da tua cara.

    Aí entra outro motivo pra eu não ter te respondido antes: eu sabia que ia ficar um comentário gigantesco.

  6. Pedro Ivo disse:

    Cara, se algum dia eu tiver filhos, de uma coisa estou certa: vou apresentar os clássicos a ele. Se ele não gostar, beleza, vou deixá-lo tranquilo jogando o seu GTA Earth. Mas, pensando bem, quem não se diverte jogando Super Mario World?

  7. Pedro Ivo disse:

    ops, corrigindo: “de uma coisa estou certo”.

  8. feroz disse:

    Seremos aqueles tiozões nostálgicos que resmungam “ah, no meu tempo não tinha essa de pulo duplo”.

    Puta merda, eu ri =D

    Eu dúvido que, botando super mario world na frente do meu filho de 8 anos, ele não se empolgue e divirta. As cores, a música, tudo feito pra criança. O piá vai adorar sim.

  9. Lipedal disse:

    Certeza que vai, cara. Um amigo veio me perguntar no MSN: “tu acha que consegue convencer uma criança a jogar SMW hoje?”, falei que sim. “E SMB?” Talvez. “Pitfall?” Acho que não.

    Mas eu não queria que ele jogasse SMB e Pitfall mesmo 😛

  10. Diego disse:

    Eu ia fazer um comentário que ia acabar ficando maior do que o próprio post, então melhor resumir contando uma história engraçada que aconteceu comigo, o primo da minha namorada de 4 anos. Ele queria jogar ds, e eu mostrei o Space Invaders. O primeiro jogo que ele jogou, beleza. Depois mostrei Speed Racer, e pronto, quem disse que ele quis jogar space invaders de novo? Matei um clássico?
    SMW foi um jogo que marcou a minha infância, foi o primeiro e coisa e tal. Mas será que é realmente um clássico?
    Se eu conseguisse jogar ele agora, eu saberia, mas eu não quero saber.
    Se meu filho conseguisse se divertir com ele depois de jogar Mario 64 ou o Galaxy, eu saberia. As vezes eu acho que clássico mesmo, só o tetris, o resto é relativo.
    A duas maneiras de fazer teu filho apreciar o Smw, a primeira é fazer ele jogar antes de SONHAR com qualquer jogo pós-smw, ou ensiná-lo a ter uma mente aberta e realmente gostar de videogame e claro, um nintendo de presente, aí não tem erro. Pode ser achismo meu, mas jogadores que começaram com um playstation ou xbox se prendem demais a termos técnicos e a dita “seriedade”. E se um filho meu vier me dizer que tetris é legal, mas poderia ser melhor se fosse em hd, com trilha sonora orquestrada e esse tipo de bichice, eu jogo pela janela.

    E pra alguém achar 2012 o melhor filme do mundo é porque não gosta de cinema (ou foi o único filme que viu), pode até gostar de assistir filmes, mas não gosta de cinema, eu sei disso porque já fui assim, e achei resident evil o melhor filme do mundo. Agora o melhor é Extermínio. =p

    Um bom exemplo nos games seria, sei lá, pensem em um jogo de snes que vocês adoraram e depois viram que era uma bosta (Another World). É mais ou menos por aí, quanto maior o teu conhecimento, mas apurado teu gosto fica.

  11. Lipedal disse:

    “A duas maneiras de fazer teu filho apreciar o Smw, a primeira é fazer ele jogar antes de SONHAR com qualquer jogo pós-smw, ou ensiná-lo a ter uma mente aberta e realmente gostar de videogame e claro, um nintendo de presente, aí não tem erro. Pode ser achismo meu, mas jogadores que começaram com um playstation ou xbox se prendem demais a termos técnicos e a dita “seriedade”.”

    Tinha pensado bem nisso. Pode ser que ele só goste dos clássicos se não jogar nenhum jogo foda recente antes. Só que é uma parada impossível, a não ser que eu tranque o menino embaixo da escada com uma prateleira de consoles antigos e não deixe ele ter amigos até ter terminado tudo…

    Essa da “mente aberta” pode muito bem acontecer, de tanto ouvir o pai falar em videogame, ou ele pode pegar um nojo incrível de jogos/design/game design e resolver virar contador só pra ser o oposto do papai 😛

    Mas, apesar de concordar com um monte do que você falou, acho que SMW é um jogo muito bom até hoje. De vez em quando pego pra jogar no DS com o cartucho de GBA, em SNES de amigo ou no emulador de SNES pro Gamecube, e consigo achar tão bom quanto achava há 13 anos, faltando apenas o fator novidade. Sem contar o que o feroz falou, é algo que, acredito, uma criança de hoje pegaria e conseguiria achar bonito mesmo sendo datado. Já Out of This World é um jogo que, concordo, não envelheceu tão bem, e apesar de ter sido uma obra-prima agora parece bastante durão e difícil de fazer funcionar.

    E H.E.D.Z. é um jogo que envelheceu mal pra caralho, minha pior experiência de jogar um jogo antigo pra matar a saudade. Ô coisinha ruim!

  12. Ricardo Abreu disse:

    “Claro que, se esse fosse o caso, eu não estaria gritando de alegria como o menino da esquerda, e sim me perguntando quem diabos é o menino loiro, o que ele está fazendo na minha casa e, pior, por que ele está comemorando a chegada do MEU videogame.”

    Hehehe… Genial…

    Eu tenho dentro de mim um medo sincero no que diz respeito a filhos e games, que talvez adicione uma nova dúvida à conversa (que eu já estou pegando no meio, e na qual não acho que seja muito educado me meter a essa aultura).

    Morro de medo da possibilidade de que meu futuro filho(a), com base na tradicional revolta abestalhada que acomete todo jovenzinho, acabe por odiar games, simplesmente por ter um velho pançudo que os ama como pai. Aquela coisa de detestar pescar com o pai só por ser “coisa de pai”, aplicada ao entretenimento eletrônico.

    De qualquer forma, eu provavelmente faria com que meu filho jogasse os clássicos, mas de uma forma mais sutil, como um emulador positrônico ou coisa assim… Acho que dar a isso carga demais, como se fosse um evento histórico, acabaria por afastar a criançada mais ainda do que os gráficos pixelados e as músicas em midi…

  13. Argus disse:

    Não sei se isso é muito válido não, cara. Meu irmão, que fez nove anos há umas duas semanas, “começou” no GameCube, que eu ganhei quando ele tinha uns quatro anos. Não lembro de ele jogando Super Smash Brothers Melee comigo, mas certamente brincou em Metroid Prime. Tempos depois, instalei o SNES no quarto e ele jogou Kirby e Super Mario World da mesma forma (apesar de ter achado estranho), sem reclamar. Claro que hoje ele joga Assassin’s Creed II e um ocasional BioShock, mas de vez em quando ele joga o Super Mario Bros. original no Virtual Console do Wii.

    Aliás, o No Controle voltou e ninguém me disse. Magoei ):

    • Diego disse:

      Teu irmão se encaixa na minha teoria, ele começou com um nintendo. Tenta empurrar SMB para um moleque que começou com um god of War 2 e gta. E Lipedal, não quis dizer que smw não é bom hoje, só que a definição de clássico (ou de um jogo realmente bom) é muito relativa. Tem gente que acha california games um clássico. E estão certos, claro.

  14. Lipedal disse:

    O BOM FILHO À CASA TORNA, graande Argus! 😀

    Cara, a gente não avisou ninguém da volta do No Controle, simplesmente porque não sabemos onde avisar. Comentar em outros blogs dizendo “ressuscitamos” fica chato, então resolvemos deixar rolar e esperar que a notícia se espalhasse, começando pelos esperançosos que ainda assinavam o feed…

    Aliás, Bracht sabia que tinha voltado, reclama com ele que não te avisou 😛

    Ricardo, não tem essa de “se meter” na conversa, toda opinião é bem-vinda! E esse é um medo que eu sempre vou ter com relação à prole: a filharada odiar as coisas das quais eu gosto só por eu ser o pai louco por design, jogos, quadrinhos, etc. Considerando que eu costumo me empolgar com as coisas e vou contar toda a história dos videogames assim que meu filho mostrar interesse, ele pegar nojo pela coisa é uma possibilidade forte e triste.

    No mais, compartilho da opinião do Argus de que não é tão difícil assim fazer uma criança jogar os bons clássicos depois de ter jogado os games atuais. Acho que Super Mario World definitivamente não vai ser um problema.

  15. adejar disse:

    Seguinte rapaziada, venho jogando videogames desde o atari. Hoje tenho um filho de 5 anos. Temos em casa um Ps3, um Ds e um PC. Dei a ele a oportunidade de jogar à todas gerações de jogos possíveis (temos todos emuladores) e cheguei à seguinte conclusão: Jogo de videogame não tem idade. Jogo de videogame é bom e pronto. Meu filho não entende e nem quer saber a diferença de geração de Little big planet e Super Mario world, ele se diverte com os jogos que são divertidos sem essa conversa de “clássicos”. Para dar uma idéia clara do que eu estou falando, apresentei pro meu filho o “Super Gem Fighter Mini Mix”, aquele mesmo do ryu e ken criança emulado pelo mame e ele adorou. Após alguns dias experimentei colocar o Street Fighter 2 normal no Ds dele.(diga-se de passagem: mais antigo que mini mix) Pronto, agora fico no maior apuro com minha esposa todas as vezes que meu filho saí correndo pela casa gritando: Hadouken !!! Shoryuken !!!!

    Em tempo: A geração Ben10 e Bakugan que são os primos e amigos da escola também estão “soltando” Hadoukens !!! Shoryukens !!!! Só por terem visto no Ds dele. Tive que ajudar outros pais a emularem o Street em uma pá de Ds por aqui.

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