Coelhos alienígenas em um cenário pós-nuclear

6 julho 2007

Finalmente acabaram as provas do bimestre, aquela depressão de quando se estuda em excesso passou e de vez em quando um ou outro tempo livre passa correndo e se eu for sagaz o suficiente, consigo pegá-lo e fazer alguma coisa que preste com ele. Caso contrário, eu acabo ficando no MSN até o tempo livre sumir de vista e depois digo que não tenho tempo pra nada.

É claro que “coisa que preste” deveria incluir “escrever no No Controle”, mesmo que eu odeie falar “no no” e prefira “escrever no NC”. Só que com o punhado de jogos que chegaram às minhas mãos atualmente, não tá rolando fazer umas resenhas ou dar uma papeada gamer. Então vou aproveitar que ainda não zerei nenhum da lista, deixando aqui minhas primeiras impressões sobre dois.

Rayman Raving Rabbids (Wii, PS2, Xbox 360, PC)

Pra começar, quero deixar claro que joguei a versão de PC, e que o jogo foi claramente projetado pra ser jogado em um Nintendo Wii. Além disso, ele foi claramente projetado para causar agonia aos donos de um PS2 ou 360, ou ao menos foi o que eu li por aí.

Ao contrário dos outros Rayman, que eram jogos de plataforma, Raving Rabbids traz o herói sem braços nem pernas numa trama sem pé nem cabeça que serve de fundo para um jogo com um punhado de minigames. O que você precisa saber é que uma raça de coelhos alienígenas, os rabbids, raptou nosso herói sem braços nem pernas, e agora ele precisa vencer diariamente uma arena de minigames de modo a ganhar desentupidores de pia suficientes pra ele escapar pela janela.

Conclui-se pela maravilhosa história que tudo gira em volta dos joguinhos. O que num Wii resume-se em tudo girar em torno do Wiimote, e nas outras plataformas resume-se em tudo girar em torno da sua vontade de ter um Wii. Mas até que Raving Rabbids não faz feio no PC. Os minigames às vezes ficam bem simples com um mouse e um teclado, e a tela de instruções se faz de boba dizendo “hehe, a parte legal de jogar no computador é que seu amigo aperta o espaço enquanto você mexe o mouse \o/”

Vale a pena pelos coelhos. Desde um jogo onde você precisa manter as portas das privadas fechadas enquanto os bichos tentam sair e te atirar desentupidores, até o minigame de dança à “Guitar Hero encontra Dance Dance Revolution com uma dificuldade que vai agradar seu sobrinho”, passando pelo fantástico Bunny Hunt (clone de Time Crisis que por si só poderia render um bom jogo, com os devidos retoques e adições), os rabbids são sempre hilários. Eles e seus gritos de fúria.

Tem também um tal de Family Mode e um outro modo só pra bater recordes, mas não cheguei a explorar nenhum. E no pouco que joguei deu pra ver um ou dois bugs bizarros também, como uma fase que não me dá 40000 pontos quando era pra dar, fazendo assim com que eu nunca possa completar as tarefas daquele dia. Mas, como eu disse, é engraçado pelos coelhos, seus vídeos e a admiração que eles começam a nutrir por Rayman conforme esse vai se mostrando um minigamer nato.

Mas se você tiver um Wii, cuspa na cara da versão de PC e vá lá brincar com seus controles. Ou então espere por Rayman Raving Rabbids 2, que já deve estar pra sair.

Fallout 2 (PC)

Falaram tanto desse aqui que eu botei na minha cabeça que ia conseguir o jogo. Em uma bela manhã, acordei e lembrei que tinha visto há um ano uma revista com o CD, em uma banca do centro. Depois do almoço fui pra tal banca. E eis que estava lá estampado na prateleira das Fullgames e afins: “15,90”. Eu tinha 11 reais no bolso, exatamente. Teria que comprar só no outro dia, já que eu tava atrasado pra aula e não tinha nenhum banco por perto. Vi minha querida CD Expert com Fallout 2, com uma inscrição chamativa na capa: “Mais barato…”, sorri, “… apenas 12,90”. Baixei a cabeça novamente. Ia colocar o jogo de volta no lugar quando percebi uma etiqueta no canto da capa: “5,90”. Perguntei pra atendente se era aquele mesmo o preço e sim, era. Ela não diria que não, depois de ver aquela cara de criança feliz levando um LEGO de 300 reais pra casa.

Depois da aula, levei meu jogo original e novinho de 6 reais pra casa e coloquei no computador. Pra começar, tem uma tela de instalação engraçada: a small installation ocupa 1.1MB, aí tem a medium, a large e a HUMONGOUS INSTALLATION, em maiúsculas mesmo, que ocupa cerca de 700MB, um gasto de memória incrivelmente grande em 1998. Após a instalação e um bom patch desoficial pra corrigir os inúmeros erros de Fallout (é daqueles jogos que foram pouco testados), eu estava pronto pra começar meu RPG pós-nuclear.

No primeiro Fallout você era um cara que tinha que ir buscar água pro seu povo, e tinha um tempo limite pra fazer isso. Depois disso ainda tinha que detonar uma ameaça mutante ou algo assim. Não vou contar o fim porque talvez vocês queiram jogar, mas o que importa é que Fallout 2 acontece 80 anos depois, com um descendente do primeiro protagonista. Você vive em uma aldeiazinha com sua tribo, um monte de pelados que não aparentam nem um pouco estar em um cenário futurista, e é O Escolhido pra encontrar o Garden of Eden Creation Kit, um pacote que promete transformar tudo em verde de novo. Lembrem de ver o filme de início, pelo amor de Deus.

Mas nem tudo é tão fácil. Primeiro tem que passar por um templo doido cheio de armadilhas, aranhas gigantes e escorpiões do mal. E você tem uma lança. Chega a ser estranho abrir um baú e ver um explosivo high-tech, pra só depois lembrar que você tá em 2241. Mas é só sair do templo que as semelhanças com Diablo acabam: Fallout parece ser um role-playing game no sentido “de mesa” da palavra. Não é só sobre jogar dados e acertar ataques, e sim sobre interpretar personagens. Então eu vou lá, com meu carinha de carisma 9 e força meio baixa, e descubro que eu tenho que lutar contra um companheiro da tribo pra acabar os desafios do templo. Dá pra brigar, mas com um bom papo você convence o cara que alguém poderia sair morto, e seria ou ele ou O Escolhido, o que de qualquer modo seria ruim pra ele. E isso é só o começo da série “como todos os RPGs deveriam aproveitar os pontos que você investe em Carisma e Inteligência”.

Basta sair da tribo e ir pra cidade mais próxima pra perceber que a parada é bem estilo Mad Max. Gangues, tribos, carros, tudo num desespero por água/gasolina num cenário desértico destruído pela guerra. Só joguei até aí, salvei e ataquei um guri na rua. Todos vieram ver e botar lenha, cada um a seu turno, como na batalha normal, e no fim eu morri pra uma mulher que deveria ser a mãe da criança. Pelas fotos que eu vi tem bem mais cidades, um mapa grande, um carro legal pro protagonista, casamentos, companheiros cyberpunk, prostitutas, jogos de azar e um monte de referências à cultura pop.

Parece ser legal mesmo. Se você achar por 5,90 encalhado em alguma prateleira da banca da sua cidade, compre sem pensar duas vezes. Além das dúzias de quests e da história bem diferente que já deve levar um bom tempo, ainda tem as muitas e muitas possibilidades de personalização de personagem, em um jogo onde isso faz diferença sim, e não apenas define que armas você pode carregar.