Variedade, um trunfo gamer

Em um post do mês passado sobre Heavy Rain, comparei videogames com filmes e disse que nosso passatempo favorito ainda era uma criança perto da maturidade de outras mídias, que podem ser trabalhadas em cima de praticamente qualquer coisa, enquanto os games continuam a apresentar as mesmas mecânicas e os mesmos tipos de história de novo e de novo.

Agora eu preciso dar o braço a torcer e falar de algo que eu considero uma enorme vantagem dos jogos: variedade. Variedade sem medo de criar situações esdrúxulas. Variedade utilizada de forma a você, em uma mesma tela, espancar uma prostituta punk, um palhaço com facas, um ninja gay e um índio com correntes. E então eles caem indefesos, um “GO!!!” verde aparece sinalizando seu progresso na fase, você avança e descobre que precisa enfrentar lutadores de sumô gêmeos com miniguns.

Não lembro de ter visto algo assim em filmes, uma mídia que talvez se leve a sério demais para criar aventuras policiais permeadas de freaks assassinos*. Já os videogames têm tradição nesse tipo de coisa, a começar pelo encanador comedor de cogumelos e o porco-espinho giratório, mas atingindo o ápice no começo da década de 90. De quem foi a ideia genial de pôr cadilaques e dinossauros na mesma história, e ainda estampar isso no título?

Os beat ‘em up da época foram reis nesse tipo de coisa. Percebi isso lendo uma matéria da OLD! Gamer número 2 – revista boa demais, por sinal -, que destrinchava as gangues de jogos como Final Fight e Double Dragon. Os marginais de Streets of Rage, por exemplo, são “uma dezena de descamisados, punks, mulheres que dão choques elétricos, ninjas, caratecas e robôs”, em um show de variedade bandida de deixar The Warriors chorando no canto. A mesma revista tem uma enciclopédia dos fatalities de Eternal Champions, um jogo de luta à Mortal Kombat que consegue colocar um mafioso, um cowboy, um homem das cavernas, um faraó, um senador e mais 12 sujeitos na mesma tela de seleção de personagens!

Apesar disso, a indústria de videogames foi se tornando mais profissional, mais cara, mais sofisticada, e os vagabundos multicoloridos deram lugar a um character design mais bem elaborado e uniforme, como os espanhóis de Resident Evil 4, os splicers de Bioshock ou os combines de Half-Life.  De vez em quando alguma equipe corajosa sente saudades dos anos 90 e resolve sacanear, homenageando a variedade artística que tomou conta dos beat ‘em up com um pouco de humor, como acredito que seja o caso de God Hand.

Mas o que me faz feliz mesmo, de um jeito estranho, é a moda dos versus. Pegue algum bicho, raça ou coisa, pegue outra que não tenha relação alguma com a primeira, coloque os dois para brigar e pronto, você tem um jogo que, se não conseguir simpatia, pelo menos vai gerar curiosidade. Plants vs Zombies e Stalin vs Martians são provas vivas, acendendo uma fagulha de saudades dos tempos de Cadillacs & Dinosaurs, e me deixando com esperança de que mais coisas estranhas e sem vergonha nesse estilo surjam no meio indie, já que ninguém vai arriscar uma gorda soma de dólares produzindo Seringueiras vs Argentinos.

Para finalizar essa conversa que eu achei que daria um post curto, aviso que o Gui está com problemas de auto-estima com relação ao que escreve e pode ficar um tempinho sem postar. Fãs, hora de comentar “Gui é emo” e esperar que seu ânimo volte.

*Lembrei de Batman & Robin, o filme com Schwarzenegger como Mr. Freeze, Uma Thurman como mulher plantinha e uma pá de punks pintados, mascarados e/ou coloridos com neon, que fez sucesso entre a criançada nos idos de 1997 mas que agora só consegue provocar uma boca aberta e um sentimento de vergonha alheia. Batman & Robin deve ter sido uma exceção que foi na onda de Final Fight.

8 Responses to Variedade, um trunfo gamer

  1. Diego Nuness disse:

    Fale Lipedal!! Então, como você disse, a indústria foi amadurecendo e a variedade deu lugar a algo em sintonia com esse amadurecimento. Variedade já era. Não há mais liberdade criativa a não ser que tu seja um design consagrado e que não dê margem para que pensem que tu é senil, aí o que tu faz vira um cult. O que seria do Super Mario Bros se fosse lançado hoje? A porra de um jogo indie

  2. Rodrigo Tjäder disse:

    Gui é emo.

  3. Pedro Ivo disse:

    Bons tempos eram aqueles quando eu metia porradas nos punks de Streets of Rage…

  4. Ricardo Abreu disse:

    Realmente, a variedade com a qual contávemos nas eras passadas era absurda. Lembro de jogar Streets of Rage, Golden Axe, Contra, e ficar besta com aquilo tudo… Quer coisa mais divertida e inocente do que Goof Troops? E criativíssimo, com puzzles pra crianças.

    Mas agora, faço uma pergunta: será que os jogos mais recentes, com todo o seu realismo, não abandonaram um pouco dessa criatividade desenfreada (“Cadillacs & Dinossaurs” é um exemplo) por conta justamente dos gamers, que cresceram e passaram a se negar a consumir o non-sense sublime que consumiam quando crianças? Certamente que o Kojima receberia ameaças de morte se colocasse dinossauros em MGS…

    Abraços, e keep up the good work!

    p.s.: se vcs tiverem twitters, postem aí pra que possamos seguí-los!

  5. Daniel Feitosa disse:

    É tempo de nostalgia. Muitos desses jogos joguei no arcade. Final Fight, Cadillac & Dinossaurs foram dois que entupi de fichas quando ia ao shopping com meu pai. Bons tempos! =D
    Dica mudando um pouco de assunto. Site massa que achei. Recomendo pelo seu atendimento e os ótimos preços.
    http://www.incrivelgames.com.br

  6. Lipedal disse:

    Goof Troop tinha puzzles pra crianças, mas bem que o último, antes do último chefão, fritou meu cérebro uns meses atrás quando eu resolvi zerar pela afudentésima vez 😦

    E essa da senilidade é uma verdade, já mais de uma vez comentaram comigo que o Miyamoto ou o Molyneux tavam ficando senis e fazendo merda akjshdakjfl

    MAS, Metal Gear não é bem uma série exemplo de seriedade, acho que ninguém ia se impressionar muito se um dinossauro passasse correndo durante uma luta do ciborgue ninja 😛

    Pode ser isso que tu disse também, o jogador médio cresceu, e a indústria amadureceu junto. Digo mais, as crianças de hoje não são como nós, que zeramos Ocarina of Time com 8 anos de idade e fizemos uma cidade de Sim City 3000 prosperar aos 10! O que eles devem estar jogando agora? Ben 10? 😦

    Ricardo, meu twitter é @lipedal mas anda paradão, e o Gui não sei se tem. Segue lá 😀

  7. Lipedal disse:

    Tô abusando de emoticons.

  8. C. Aquino disse:

    Na verdade, Cadillac & Dinosaurs é baseado em uma história em quadrinhos, Xenozoic Tales, de Mark Schultz. A série, nunca publicada no Brasil, também foi adaptada em forma de desenho animado, RPG e card game.

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