Star Wars, replay, Lego, replay, multiplayer, replay

25 outubro 2007

Essa resenha originalmente ia sair logo depois da resenha do primeiro Lego Star Wars, já que quando escrevi a primeira já estava quase terminando o segundo jogo. Ou ao menos era o que eu pensava. Levemente decepcionado, vindo aqui comentar que tinha achado a seqüência pior que o original, resolvi ver quanto por cento do game eu tinha desbravado. 41%. Isso pegando uma quantia considerável de extras e comprando tudo que desse.

E é depois desse período de seca Nocontrolística que venho aqui, tendo completado 100%, dar algumas palavras sobre…

LEGO Star Wars II: The Original Trilogy
Plataformas: GC, PS2, Xbox, Xbox 360, DS, PSP, GBA, PC e Mac
Data de lançamento: 11/09/2006
Produtora: LucasArts
Desenvolvedora: Traveller’s Tales

Lego Star Wars II: The Original Trilogy faz o caminho inverso da série e dá continuidade ao jogo antigo, que retrata os filmes mais novos, cuja história acontece antes da trilogia original. Pois é, tente não pensar muito nisso e você será feliz. O que importa é que dessa vez Jar Jar Binks dá lugar a Chewbacca, as pods cedem espaço à Millenium Falcon e o garotinho pentelho torna-se Darth Vader, o cara mau.

Ou não tão mau, como as primeiras CGs já deixam explícito. Se as cutscenes do primeiro jogo davam uma aliviada na correria para contar a história de forma bem-humorada, resumida e sem falas (Lego não fala, é bom lembrar), em The Original Trilogy a equipe de gags forçou a barra e nos dá o desprazer de presenciar uma piada a cada trechinho de filme. Ou seja: nada de passagens memoráveis com Lego e toques de humor. Agora as CGs são humor com Lego e toques de passagens memoráveis. Desde o duelo de Ben Kenobi e Darth Vader no Episódio IV até Luke caminhando na prancha no começo de O Retorno de Jedi, nada se salvou. As duas ou três primeiras piadas serão engraçadas, na quarta o jogador abre um sorrisinho, na quinta a coisa cansa, nas próximas 37 tudo o que você quer é uma opção para pular os vídeos.

O que nos leva ao fator replay. Replay das fases, replay dos filmes. Nada de pular as cutscenes: para completar 100% do jogo cada vídeo será assistido cerca de três vezes, sem choro. O que é uma tragédia potencialmente reduzida quando se tem um amigo no segundo controle e um baralho de truco à mão. O modo cooperativo continua intacto, mas algumas novidades trouxeram problemas nesse ponto.

A primeira delas é o ataque corpo-a-corpo. Enquanto no primeiro game apenas jedis tinham golpes de perto, agora todos têm. A Princesa Leia mete um tapa nos stormtroopers indecentes, Chewbacca come seus membros e Luke vai no chute, só para citar alguns. O que não faz diferença nenhuma de modo positivo, já que Amidala, Capitão Panaka e o resto da galeire davam tiros à queima-roupa com suas garruchas no jogo original. Já no cooperativo, a coisa muda. Imagine a situação: você e seu amigo estão lado a lado. Do outro canto da sala, um bando de stormtroopers desce o chumbo em vocês. Você, bem alegre, aperta o botão de atirar para contra-atacar e PÁU, teu boneco dá um pedala na nuca do companheiro. Bem assim. Em vez de atacar o inimigo mais próximo, ele ataca o Lego mais próximo e dá prioridade ao corpo-a-corpo. Então se você apanhava do Marcão a cada vez que o acertava sem querer com um tiro no primeiro Lego Star Wars, prepare as gazes e o mertiolate.

Para contrabalançar, uma adição bem-vinda à movimentação dos personagens é a esquiva. Funciona como rebater tiros com o sabre de luz no primeiro jogo, é só apertar o botão de ataque na hora certa e voilá, seu cabeçudo dá uma pirueta e continua vivo. Isso se o carinha do segundo jogador não estiver perto. Se ambos estiverem muito juntos o pedala predomina, você leva o tiro de qualquer jeito e apanha do Marcão.

Quanto aos cenários, houve certas mudanças também. De ambientes bem construídos, fases curtas e puzzles medidos, passamos para um maior número de objetos não-interativos em cena, como aquela árvore de Warrior Within em que você pulou e descobriu da pior forma que era só enfeite. Mas, se por um lado as plataformas altas e o super pulo somem e Jar Jar Binks se consagra como o único personagem completamente inútil da franquia, um enfoque maior é dado a salas secretas e uma nova categoria de personagens surge disso, os Bounty Hunters. Eles podem abrir portas exclusivas e largar bombas que detonam objetos metálicos estranhos. Dá pra resumir as fases como “menos Lego, mais Star Wars”.

Mas isso são diferenças que só irritam o jogador mais chato, e apenas antes de acabar o modo Story. Depois disso é que Lego Star Wars II mostra seu valor. No jogo original cada fase tinha 10 peças escondidas que juntas formavam um veículo da série, e já era replay suficiente. Agora imagine três episódios, com seis fases cada, com cinco Golden Bricks para coletar, sem contar as 10 peças de nave e um bloco que habilita um cheat. Por fase. Isso se eu não errei alguma conta.

Além disso, cada episódio tem três níveis especiais: Super Story, Character Bonus e Minikit Bonus. No Super Story, você tem uma hora para completar todas as fases do episódio e coletar um certo número de moedas. O desafio perfeito para ser degustado com um copo de refrigerante e umas Trakinas, a serem comidas durante os vídeos que você já viu no Story normal. No Character Bonus os dois jogadores escolhem um personagem cada, dentre os já abertos, e têm que competir para ver quem consegue um milhão de moedas primeiro, em fases desenhadas para que se consiga isso em poucos minutos. Mas é no Minikit Bonus que o fator replay é elevado ao quadrado, ou sei lá quanto. Aqui você também tem que brigar pra conseguir um milhão, mas usando as naves habilitadas catando aquelas 10 peças por fase. Ou seja, além de sofrer para conseguir esses prêmios o jogador ainda pode usá-los para conseguir um outro extra. E o mais bonito: é possível usar os minikits abertos no primeiro jogo.

Na verdade, é possível usar todos os personagens conseguidos no primeiro Lego Star Wars, caso você tenha seu jogo antigo salvo no memory card ou HD. Então além dos 50 bonecos da trilogia original, temos mais 56 do primeiro jogo, todos reformados para as novas habilidades, como esquivar e estapear o cara mais próximo, mas sem o super pulo que era uma das características do primeiro, então General Grievous fica um pouco menos tesudo e Jar Jar vira peso morto total. De qualquer modo, é um bônus muito bem-vindo.

A customização de personagens também é uma coisa legal. Cada jogador pode criar um personagem para jogar no modo Free Play, usando partes de bonecos que você já habilitou. Isso pode ser uma mão na roda no começo do jogo, já que o único jedi disponível até a metade do Episódio V é Ben Kenobi. Esse é outro probleminha, mas que não é culpa dos produtores de Lego Star Wars II. A nova trilogia de filmes é mais adaptável para um jogo assim do que a original, ou ao menos foi o que me pareceu. Dois jedis logo de começo (dando o balanço necessário para o modo cooperativo), ambientações mais variadas e chefes a cada pouco. Aqui as batalhas de chefes parecem ter sido “empurradas” e não tão bem elaboradas, e quando você percebe tirou quatro corações de Darth Vader em um ataque sem perceber. Por outro lado, para quem prefere Mos Eisley a Naboo e Endor a Kashyyyk, essas diferenças entre as duas trilogias podem ser favoráveis ao segundo jogo. Sem contar que tem a Estrela da Morte, e dessa vez sem os “trilhos” que guiavam as fases de nave no game original. Agora as TIE Fighters e X-Wings são livres para ir e vir, coletar peças bônus, destruir Star Destroyers e essas coisas rotineiras.

De qualquer modo, as estrelas do espetáculo continuam sendo os muitos extras possíveis de conseguir para completar 100%. 50 personagens, umas 10 naves para as fases de veículos, os minikits, os cheats, uma fonte de dinheiro, missões de caçador de recompensas, os três níveis extras por episódio e o bônus mais legal que já apareceu num jogo de Lego, obtido ao conseguir 60 Golden Bricks. Mas não vou spoilear mais.

A avaliação final é: Jogão, tanto quanto o primeiro, que eu dei Must Play porque tava entorpecido pelo pós-jogo. Apesar dos pesares, mesmo que você tenha achado o Story chato, como eu, aprende a gostar do jogo após os 40% que representam o “fim do básico”. Bônus aos montes, todos os personagens mais importantes de Star Wars no modo “Use Old Save” caso você tenha zerado também o primeiro, e um amigo do lado. Mesmo entre uma e outra bifa dada por engano, o modo cooperativo ainda é obrigatório.

Agora é só esperar por The Complete Saga.


Star Wars é bom, LEGO é melhor, LEGO Star Wars é demais!

30 agosto 2007

Não sei se vocês sabiam, mas com o sucesso da franquia nos videogames, está pra ser lançado LEGO Star Wars: The Complete Saga em novembro desse ano, pra Xbox 360, PS3, Wii e DS. Além do remake com gráficos da nova geração e modo cooperativo online, ainda li que LEGO Batman, LEGO Indiana Jones e LEGO Universe estão planejados para 2008. Isso, LEGO Universe. Alguém ouviu “desbancar World of Warcraft”?

Considerando que o interesse de vocês pelo Star Wars de bloquinhos pode ser renovado com o remake vindouro, e aproveitando que tô viciadão no segundo jogo da série, vou resenhar aqui o primeiro. Mas perdão, LEGO Group, pelo bem da escrita vou escrever Lego mesmo, sem maiúsculas.

LEGO Star Wars: The Video Game
Plataformas: GC, PS2, Xbox, PC, Mac e GBA
Data de lançamento: 05/04/2005
Produtora: Eidos Interactive, LucasArts
Desenvolvedora: Traveller’s Tales

Se tem algum brinquedo “de verdade” que sempre fica bom quando vira jogo, esse brinquedo é Lego. Não que eu lembre de muitos outros brinquedos que viraram jogo, mas pra dar um exemplo, nunca vi uma versão virtual de Banco Imobiliário que prestasse. Lego Racers é bom, Lego Racers 2 é bom, Brickland (multiplayer não-oficial de Lego) é ótimo, e assim deve ser com os outros. Mas porra, Lego Star Wars é demais. Juntando os três episódios mais novos da famosa série com os blocos amados por toda criança de classe média, o primeiro jogo mostrou ao mundo como deveriam ser feitas todas as adaptações de cinema pra videogame.

Esqueça Roque Squadron III e sua movimentação a pé tosca. Esqueça aquele The Phantom Menace feião. Esqueça o jogo oficial do terceiro filme. Descontando aqueles spin-offs legais (como Star Wars Racers e Knights of the Old Republic), jogo bom é Lego Star Wars.

“Mas com esses bonecos amarelos?”, é o que vem à mente do gamer tarado por Star Wars. Sim, com esses bonecos amarelos. Que andam, pulam, lutam e se comunicam mais convincentemente do que suas contrapartes quase-hollywoodianas. E nem são mais amarelos. Os personagens são modelados seguindo o padrão da linha Lego Star Wars “de verdade”, assim como as naves e acessórios. Enquanto o cenário em si é normal, todos ou quase todos os objetos são feitos de blocos Lego, e a maioria é destrutível, desde os arbustos de Naboo até as cadeiras do Senado de Coruscant.

O divertido é que o roteiro dos filmes é seguido à risca, mas sob outra perspectiva. Nada de rever a mesma cena do Anakin perdendo as pernas mas com carinhas em CG. Cada cutscene adiciona um pouco de humor às situações, geralmente pela dificuldade da comunicação (Lego não fala), mas tudo na medida certa. Fora o Jar Jar Binks. Esse continua chato.

O primeiro Lego Star Wars pode ser resumido em três palavras: replay, multiplayer e ahmeudeus. Multiplayer porque toda fase é jogada por dois ou mais personagens, de preferência com mais um amigo no modo cooperativo. Se no filme não era assim, você nem vai perceber. Tudo encaixa direitinho, nenhum personagem parece ser inventado de última hora pra preencher espaço. Os puzzles seguem a mesma linha, com os dois jogadores se ajudando sempre.

O que pode ser uma bosta no single player. Quanto aos puzzles predeterminados tudo legal, mas quando a coisa exige um pouco de cooperação não-artificial fode. Não joguei o suficiente pra poder afirmar isso com convicção, mas quando tive que gastar um bom tempo tentando erguer uma porcaria de pedra com a Força, só porque os inimigos tavam atirando em mim e meu parceiro controlado pelo computador não dava cobertura, desisti. Liguei pro vizinho e pronto, cooperativo legal assim nem em Streets of Rage.

Mas além do jogo a dois, o que faz Lego Star Wars ser tão bom é seu fator replay incrível. Todos os personagens principais, secundários e até uns figurantes estão disponíveis, somando 56 bonecos baseados nos Legos normais. Desde Qui-Gon Jinn e Darth Maul até Yoda, passando pelo pequeno Boba Fett e os Droidekas boladões, há uma porrada de carinhas destraváveis. Destraváveis porque primeiro você precisa passar das fases onde eles aparecem pela primeira vez, e depois, caso não seja um personagem protagonista como Anakin ou Obi-Wan, comprá-los com o dinheiro coletado nas fases.

Coletado quebrando tudo. Vandalizando. Arrisco dizer que o vandalismo é melhor que em Hello Kitty Roller Rescue.

Mas nem só de criaturas de cabeça amarela vive Lego Star Wars. Há também as naves. Em cada fase é possível montar um veículo do universo da franquia, bastando apenas encontrar seus 10 pedaços espalhados pelo cenário, os canisters, cuja tradução eu não encontrei no dicionário. Além disso, atinja um certo número de moedas em um nível para ganhar peças de uma nave maior, provavelmente a última coisa que você vai destravar no jogo. Todas essas belezuras ficam no pátio do Dexter’s Dinner, que é a área onde você fica brincando de testar os bonecos, matando seu parceiro e coletando uma graninha extra, enquanto não entra na porta da próxima fase. Só que não dá pra dirigir. E olha que eu tentei. Bastante.

Mas o maior trunfo do replay é que não é simplesmente sair rushando no modo Story e catar todo o dinheiro possível mais as 10 canisters de primeira. Quando você passa de uma fase abre o modo Free Play dela, onde você pode escolher os personagens que vai controlar e trocar de boneco no meio da fase a seu bel prazer. O que é especialmente útil, já que a maioria dos puzzles-de-peça-de-nave é inacessível aos bonecos que jogam o Story. Dando um exemplo pra não ficar tão vago: você viu um canister num lugar bem alto, mas nem o Obi-Wan nem o Qui-Gon alcançam a plataforma. Jogue mais umas fases até liberar o Jar Jar Binks ou o General Grievous, volte pra essa no modo Free Play e então use o pulo sobre-humano do maluco pra pegar a peça. Cada personagem se adequa a um grupo de habilidades (jedi, sith, pulador, atirador, droid…), simples assim.

Claro que se você for acabar só a história de uma vez, o jogo é bem curto. O forte são os destraváveis: personagens, naves, extras (como o bigodão de Groucho Marx e o detector de canisters). Mesmo assim, o enredo garante ótimos chefões, com batalhas desenvolvidas de modo a fazer adversários detonáveis “a dois” (e aí, já tá imaginando como fica a luta final contra Anakin?) e com fases bem planejadas nos chefes e fora deles. Há também três estágios de controle de veículos, todos bem lineares mas de qualquer forma divertidos, tudo muito bem feito e permeado pela ótima música do universo Star Wars.

A avaliação final é: Must Play, pra aprender como se faz um bom jogo baseado em filme e acabar de vez com algum preconceito subconsciente que você possa ter quanto a bonecos amarelos engraçadinhos. Seja na geração passada ou no remake vindouro, jogue com um amigo. De preferência com controles, porque teclado dividido não presta.