Opa, eu já estive aí!

Esses dias assisti um documentário com meu pai, se bem me lembro sobre a Babilônia, assírios, sumérios, esse tipo de gente. De vez em quando pegamos algum desses filmes sobre civilizações antigas, mas essa vez foi diferente. Tudo porque, em certo ponto do documentário, falaram de uma certa construção babilônica, cuja presença me fez exclamar um “opa, eu já estive aí!”, não sei se alto ou só mentalmente. O que importa é que eu já tinha estado naquele lugar, de algum jeito, e comecei a pensar sobre aquilo.

Minhas primeiras lembranças de vidas passadas? Talvez alguma daquelas falsas memórias à Blade Runner? Não, eu já tinha sido o Príncipe da Pérsia e já tinha caminhado por aquelas torres enquanto contemplava os telhados da Babilônia, mesmo que virtualmente.

Não lembro qual era o lugar em questão, mas conseguiria reconhecê-lo se visse de novo. Como quando você viaja por um caminho que já percorreu uma vez e, mesmo que não lembre do trajeto, é capaz de reconhecer as casas ou a geografia marcante quando passa novamente por elas.

Aí, enquanto o narrador falava lá dos povos babilônicos e de como eles gostavam de brigar por causa de terras férteis, cidades místicas e o suposto desenvolvimento de armas nucleares, percebi mais esse poder dos jogos: apresentar aos jogadores lugares que eles podem já conhecer ou não. É claro que filmes também têm esse poder, mas “eu já vi esse lugar” é definitivamente diferente de “eu já estive aí”.

Pensando um pouco agora, os americanos já perceberam esse poder há tempo e usam para o marketing nacionalista deles. Perdi as contas de quantas vezes já atravessei aquela ponte de São Francisco, a carro ou a nado, mas não lembro de já ter dirigido pelo Champs-Élysées ou visitado o Kremlin de Moscou. Se alguma vez passei por esses lugares, foi a caráter de espionagem para matar algum agente não-americano, portanto malévolo, e não por turismo.

Lembram do jogo de tirar fotos? Seria legal poder representar lugares de verdade em games desse tipo, como o Cristo Redentor, as Ruínas de São Miguel ou sei lá. Imagine você, viajando com os filhos daqui a uns anos, e servindo de guia sem nunca ter pisado naquele lugar? Os pimpolhos ficariam admirados ao escutar “aquela torre lá é bem alta, mas não dá pra chegar no topo porque tem grades”, e confusos quando você apontasse para uma alcova mais oculta e exclamasse “haha, eu lembro que aqui tinha um easter egg, até tirei foto!”

Ah, eu sonho demais. Mas bem que gostaria de jogos nesses moldes, retratando lugares reais com a finalidade final de turismo mesmo, sem uma trama complexa envolvendo um alemão maluco que toca Tocata e Fuga em seu castelo, e cujos comparsas não deixam você apreciar a paisagem…

Ou então, ou então!

Uma ilha completamente desconhecida, fictícia, habitada por dinossauros. Seu objetivo é catalogar todas as espécies encontradas lá, filmando e fotografando os bichos. Mais ou menos como aquele Jurassic Park 2 seria caso não tivessem colocado um monte de militares pra matar geral na ilha. É claro que um jogo sobre dinossauros não pode ser tão tranqüilo quanto outro sobre passear por lugares históricos, então de vez em quando você teria que dar uma corrida pra não virar comida de réptil. Mas sem precisar enfrentar os bichos, seus psicopatas. Você foi enviado pra catalogar e talvez morrer no processo, não pra acabar com o ecossistema da ilha perdida. Por favor, Dr. Ian Malcolm, enfie o princípio da incerteza no olho.

Imagina só, os bichos mais legais do jurássico retratados com fidelidade em um jogo desse tipo, após muita pesquisa, em vez de simplesmente inventar uns bichos com cara de mau para perseguir o protagonista, como naquele Jurassic Park 3. Aí eu ia assistir um documentário com meu pai, sobre dinossauros, e de repente o surpreenderia com um “opa, eu já fugi de um desses enquanto filmava ele. Ainda bem que não me alcançou, gosta de carne humana que só vendo!”

Talvez até dinossauros em São Miguel. “Hahaha filhão, tá vendo aquela árvore? Papai já teve que subir lá pra escapar de um velociraptor. Quando a gente voltar te mostro as fotos.”

Imaginar não custa nada.

26 Responses to Opa, eu já estive aí!

  1. Argus disse:

    ….fantástico. Realmente.

    Já consigo me ver em Londres, falando pros meus filhos como foi legal pular do Big Ben de motocicleta.

  2. Lipedal disse:

    Kjhaskdj você pegou o espírito da coisa!

  3. Sardo disse:

    Cara, a idéia do turismo é muito boa.
    E é uma forma diferente de jogar.
    Muito interessante mesmo.

    Deveria seguir com essa idéia adiante. =D

    Eu me imaginei no lugar daquele carinha que tira fotos em Cidade de Deus.
    No Rio, favela, meio de tiroteio. =P

    Maaassa..

  4. HAHAHAHA Adorei as idéias, acho que realmente seria muito legal ter uma coisa assim. Minha namorada que adora ficar explorando os mundos, vendo detalhes de cenário e coisas do gênero, iria jogar feito louca.

    Me imaginei num daqueles templos nas montanhas chinesas…pulando lá de cima.
    Putz, skydiving/paraquedismo seria uma idéia legal também. Acho que não existem muitos jogos do gênero, né? XD
    Alguma coisa do tipo: “Beleza, vou dar uma volta pela cidade, escolher o melhor ponto pra saltar (base jumping) e os possíveis caminhos de fuga caso a polícia resolva não deixar, aí eu escalo esse prédio/torre pra saltar lá de cima e cuidar pra não me espatifar no chão”

    Seria legal fazer um simulador do gênero “Coisas inusitadas da vida real”
    Ótimo post =D

  5. Lipedal disse:

    Pois é, Sardo e Youta. As opções para um jogo “de turismo” são muitas, e a falta de inimigos pra matar não significa que tenha que ser um game chato. Skydiving em plena Bacia de Guanabara, motos alucinadas descendo as pernas da Torre Eiffel, há muita coisa ainda não explorada nesse gênero. Dá pra redefinir os jogos de ação com essa história de “coisas inusitadas da vida real” 😛

    Quanto à sua namorada, eu também sou assim. Beyond Good & Evil me encantou, pois tem um mundo bem construído e habitado por criaturas alienígenas que você precisa fotografar se quiser 100% completo. Às vezes eu ficava só passeando, admirando o cenário, procurando bichos novos… ô jogo bom.

    GTA também. Não fiz nem 1/3 das missões, mas peguei um save completo da internet e ficava só explorando os lugares, a zona rural, as montanhas. Sem contar, é claro, subir no prédio mais alto do jogo pra pular de pára-quedas :F

  6. Nightshadew disse:

    “Coisas inusitadas da vida real” pode dar um bom jogo, mas porra, tu tá pensando muito nisso. Criadores de jogos precisam de uma mente mais mainstream.

  7. Lipedal disse:

    Hahhahah pois é, eu ia morrer de fome se fizesse Game Design :B

  8. nephesh disse:

    Hmm, é, eu gostaria um jogo como esse que você descreveu. E também já me peguei com esses pseudo-déjà vús causados pelos games que joguei. Mas mudando um pouco de assunto, você iria gostar de Endless Ocean, não concorda? Por sinal, ele está na minha lista de desejos, ainda mais porque vai custar “só” 30 dólares!

  9. Lipedal disse:

    Endless Ocean é aquele de “turismo marinho” pra Wii, né? Parece ser muito legal, inclusive esqueci de comentar sobre ele no post. Li sobre o jogo em uma NGamer, uns dias depois daquele post falando de Portal, e anotei mentalmente que da próxima vez ia citá-lo como exemplo. Minhas notas mentais não duram muito, mas fica a dica do nephesh. Quando tiver ace$$o a um Wii, preciso ver como ficou o Endless Ocean 😀

  10. Nightshadew disse:

    Tinha esquecido que esse Endless Ocean existia! Vou ver se dou uma olhada. Mas ainda tem muito jogo na frente, então provavelmente só ano que vem.

  11. Rodrigo disse:

    Ou entao se alguma mega empresa comprasse alguma ilha e transformasse ela em um cenario de um jogo. Ja imaginou uma versao “real” de Hyrule, com direito a dungeons e cidades no ceu? Demais!

  12. jonatasbueno disse:

    Opa!!
    Deve ter sido muito boa essa sensação…
    Sem falar que POP é demais!!!

    PS:Citei tu lá no meu blog…se de para dar uma passada…

    Abraços!!
    =]

  13. allynehf disse:

    Hm, olá pessoal.
    Jogos com cenários altamente exploráveis são sempre um máximo. Fazer o que quiser no cenário então, melhor ainda !!
    Adorei Beyond Good and Evil, dava pra brincar bastante no cenário e ainda se ligar na história. Hm, Fable é bem legal tb, apesar de termos de seguir um certo enredo, ele dá uma boa liberdade pra passear =)

  14. Ph00k4 disse:

    “Perdi as contas de quantas vezes já atravessei aquela ponte de São Francisco, a carro ou a nado”
    GTA SA

    “Mas bem que gostaria de jogos nesses moldes, retratando lugares reais com a finalidade final de turismo mesmo”
    Curto Virtual Sailor… joguinho bacanoso…
    e vc pode viciar no Google Earth também.
    gfhkasdgfhasghkfg

    O lance dos dinossauros me lembrou o Pokemon Snap (64).
    Dino Crisis também, quando você falou dos dinossauros violentos…

    Já jogou Misty?

    flwz

  15. Ph00k4 disse:

    ah, lembrei de Carmen Sandiego do MSDOS tb.
    kgasdghfakshgfashkgfhkasgf

  16. Lipedal disse:

    Carmen Sandiego aksjdhaksjdh

    O lance dos dinossauros é baseado em Pokémon Snap, não foi coincidência, já a ponte de São Francisco lembro dela pelo menos em GTA SA e Driver, mas certeza que já joguei outros jogos com ela 😛

    Misty é sobre o quê? Como é?

  17. Ph00k4 disse:

    Esqueça Misty… é exploração de uma ilha misteriosa cheia de puzzles…

    http://www.fhbd.org/forum/index.php?topic=12656.0
    mas achei isso.

  18. Lipedal disse:

    Sei lá, não consigo mais gostar de The Sims, essa história de só viver a vida e pronto. Mas como é em uma ilha, os caras são náufragos e provavelmente tem uma história/objetivos, vou dar uma chance. Tem também aquele The Sims Stories: Castaway, que vai sair ano que vem, parece que vai ser legal.

  19. TigerTjäder disse:

    Têm certeza que não estão falando de Myst?

  20. Lipedal disse:

    Ahhhhh, agora sim. Bem provável. Ph00k4, confirma?

  21. Ph00k4 disse:

    sim, hduahsduhauhdsuhda

  22. Lorenz disse:

    Jogo de tirar fotos o único que presta é Pokemon Snap, atirar maçãs pra fotografar o Magikarp…. :wub:

  23. feroz disse:

    nunca consegui tirar foto do mew sem ele estar de costas

  24. Edgar disse:

    Cara essas é uma das ideias que nos precisamos para novos jogos. Quem derá se tivesse um jogo assim que vc pudesse viajar por vários locais sem sair de casa, seria como um guia turistico sa palma de suas mãos.
    Essa sim é uma dica porreta

  25. […] leitores de longa data que leram esse ou esse post, anteriores ao falecimento do No Controle, têm uma ideia da minha opinião meio controversa […]

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