Profecia azul, assassinato e mais um título infeliz

Pois é, foram umas férias de blog durante as quais muita coisa aconteceu. O feedback do último post foi porco, cansei de escrever, larguei uma matéria na faculdade, decidi largar Computação de vez, percebi que eu tava levando jogos muito a sério e que na verdade eu não queria zerar Ocarina of Time e Fallout, assisti uns filmes cult, viciei em CS, varri meu quarto, fiquei de novo com vontade de zerar Ocarina of Time e Fallout, e finalmente voltou o gosto por escrever. Então hoje volto à ativa com outro desses títulos retardados que precedem um Primeiro Contato. Pelo menos o jogo é bom.

Indigo Prophecy (PC, PS2, Xbox)

Sabe aqueles jogos pouco conhecidos, mas que mereciam mais atenção do que muita coisa que faz sucesso por aí? Indigo Prophecy é um desses. Um “adventure dos novos tempos”, Fahrenheit, como é conhecido o jogo originalmente, mistura uma história intrigante com uma ótima mecânica e muitas inovações para o gênero que já era considerado morto.

Evoluindo dos aponte-e-clique tradicionais, aqui temos um sistema de vida parecido com The Sims que faz com que o jogo não seja apenas um aglomerado de puzzles envolvendo diversos objetos e lugares. Os personagens têm um medidor de satisfação que sobe ou desce de acordo com o que eles fazem ou o que acontece com eles. Usar o banheiro, por exemplo, não se resume a uma piadinha sobre a massa disforme que paira na privada: seu personagem manda um xixizão e sai com +5 pontos de alegria. O contrário também acontece quando você dá um fora numa conversa, não encontra alguma coisa ou toma um daqueles sustos de arrepiar os cabelos. -5, -10, -20, varia de acordo com o estresse causado. Se deixar esse nível chegar a zero o personagem se suicida. Simples assim.

A história começa com Lucas Kane, um novaiorquino aleatório, matando um cara no banheiro de uma lanchonete. Ele não sabe por que fez isso, mas fez. De quebra riscou à faca uns negócios estranhos no braço. Agora Lucas tem que descobrir o que está acontecendo com ele, entre aparições de uma menininha maligna e visões de um ritual diabólico.

Mas a história também começa com Carla Valenti e Tyler Miles, a detetive CDF e seu parceiro largadão, investigando o assassinato alguns minutos depois. Entre os problemas pessoais do cara e a intuição feminina da moça, eles também precisam descobrir que raio de assassinato estranho e sem motivo foi aquele.

E você joga com os três, seguindo o dia-a-dia deles como faria uma pessoa normal. Tudo tentando manter o nível de satisfação lá em cima, sendo que “lá em cima” é Neutro, já que nem um assassino confuso nem policiais desesperados podem chegar a ficar radiantes de felicidade. E esse toque The Sims contribui de monte para a imersão nos desafios de Indigo Prophecy, já que não é só sair correndo e checando cada caixa e canto em busca de itens. Você precisa seguir a linha da história e se manter vivo. Experimente engolir uns remédios e logo depois beber um copinho de uísque pra ver.

A jogabilidade em si é bastante interessante: com o teclado você movimenta o personagem, e com o mouse mexe a câmera ou interage com os objetos. Para abrir a gaveta de baixo clique com o botão esquerdo e puxe o mouse para trás, para abrir a gaveta de cima clique e empurre o mouse para frente, por aí vai. Frescura, mas diferente. Serve também pros momentos de desespero, como quando um policial tá batendo à porta do apartamento de Lucas e você ainda precisa fazer movimentos certos com o mouse pra poder agir a tempo. O mesmo acontece nos diálogos, já que você tem um tempo muito curto para responder entre as opções mostradas. Aqui entra um ponto fraco do jogo: precisa entender bem inglês pra escutar um policial dizer “O que são esses cortes no seu braço?” e responder “Ah, quebrei um copo e me cortei” a tempo.

Mas o que mais contribui para o estilo cinematográfico de Indigo Prophecy são as seqüências Genius, ou Simon Says. Seja tocando guitarra, jogando basquete, tentando lembrar do que aconteceu na noite do crime ou fazendo sésso com a ex (só se você tiver a versão européia, Fahrenheit, porque americano não pode ver essas coisas feias), você será confrontado com uma série de teclas para apertar no estilo do saudoso joguinho, mas que exige mais reflexos do que memória. As músicas que acompanham esses momentos mais emocionantes também são ótimas.

Sendo um adventure diferente e exigindo mais dos reflexos do que da cabeça, mas ainda assim mantendo a qualidade dos clássicos, Indigo Prophecy vale o investimento. Joguei o suficiente pra atestar sua qualidade, e pretendo zerá-lo nas férias. Dizem as más línguas que o final é uma merda, mas vai saber. Ruim mesmo é olhar pra cada espelho com apreensão depois dos primeiros cagaços.

13 Responses to Profecia azul, assassinato e mais um título infeliz

  1. Gui Stadler disse:

    Ah, sinceramente, esse jogo não me atrai :<
    Subiu no conceito por ter altas coisinhas DIFERENTES, como o basquete, como ter que viver uma vida normal…
    Me soa como “SAM & MAX LOSE THE HUMOR AND MEETS REAL LIFE” ou algo assim 😮

    Mas o texto tá bom, Lipe 😀

  2. Lipedal disse:

    É, não é um adventure de humor. Na real é um adventure bem diferente, que concentra mais no desenrolar da história e no dia-a-dia dos personagens do que em puzzles. Não dá pra comparar com Sam & Max.

    Mas eu gostei porque até hoje esse negócio de necessidades físicas/psicológicas se resumia a jogo de casinha ou de relacionamentos (The Sims, Singles, 7 Sins), que eram focados nisso e só nisso. É interessante ter um jogo que se concentra no “viva a vida” enquanto coisas macabras acontecem e você tem que descobrir o que tá havendo. É aquela história dos gêneros se encontrando, que a gente discutiu no post de Fable 2.

  3. Nightshadew disse:

    Eu ia dizer praticamente a mesma coisa que o Gui :wts:

  4. Ahh que saudades dos textos do NC!

    Olha, esse foi um dos poucos jogos de PS2 que eu não joguei e pouco ouvi falar. Mas realmente o texto despertou uma curiosidade, e assim que acabar d ecomentar, vou voando ver quilos de videos.

    Eu tenho uma queda por titulos ao estilo “vai indo em frente e se vira!”.

    Grande abraço!

  5. Vinicius disse:

    Que título podre, o Felipe se supera a cada post…

  6. Katsutoshi disse:

    Jogo interessante …quando eu tiver coragem, vo ver se eu acho ele pra eu dar uma jogada 😀

  7. Ondrop disse:

    Ae, finalmente uma atualização!
    lipedal vadio.

  8. Knall Dreheit disse:

    AEEE!!!! Finalmente um post! Continuem assim! E realmente, que título hein?

  9. […] comentou sobre Indigo Prophecy (Farenheit), um jogo realmente muito bom e que merecia um cartaz maior do que é dado à ele. E Gui Stadler […]

  10. Victor disse:

    Cara, eu já zerei esse jogo, e devo confessar, me decepcionei amargamente.

    No início você fica até besta com a qualidade da história: envolvente, mística e dramática. Até a metade do jogo. Depois disso, eles resolvem dar um twist que acaba por “cagar” em tudo. O final é muito podre. Outro ponto é o tamanho do jogo. Eu zerei em um dia, MUITO pouco para a minha vontade gamística. Mas ainda bem que acabou logo.

    Tristeza, muita tristeza.

  11. Lipedal disse:

    Hahahha, foi bem o que eu li sobre o jogo, e tinha uma certa esperança de que fosse só birra dos críticos. Que pena, então. O começo realmente é muito bom, esperava muito do jogo.

    De qualquer modo vou tentar jogar até o fim quando puder, ou pelo menos até dar o plot twist bizonho e eu largar de mão 😀

  12. […] a confusão com relação à capa do jogo, ou talvez porque, após dois anos, resolvi terminar Indigo Prophecy e subitamente fiquei na expectativa com relação a seu sucessor espiritual. O que importa é que […]

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